GOVERNO: mais educação por favor

Por Gilmar Piola

Educação esquecida dos presidenciáveis

 

Por enquanto, a educação ainda ocupa um espaço em branco na agenda dos candidatos à Presidência da República. Talvez seja implicância minha. Vejo a novela sobre as coligações partidárias, a briga do PFL com o PSDB e o vaivém da mais longa sucessão presidencial do mundo invadirem todo o dia as páginas dos jornais e ocuparem espaços preciosos no noticiário de rádios e TVs. Enquanto isso, a educação, que deveria estar no topo das preocupações dos candidatos e da mídia, parece ter sido condenada inadvertidamente ao esquecimento.

Fora uma menção aqui, outra ali, nenhum candidato, até agora, lançou qualquer proposta digna de aplausos, capaz de convencer. Os discursos que se ensaiam, tanto do lado do governo quanto da oposição, apontam numa direção equivocada. A educação é tratada sob uma visão retrógrada e simplista, o que a transforma em mera política compensatória (tirar crianças das ruas, reduzir a violência e a criminalidade, distribuir renda aos menos favorecidos etc), confundindo-a com as políticas assistenciais. E só. Não é à toa que o Bolsa Escola virou unanimidade nacional, da esquerda à direita.

Há, sim, uma afinidade retórica em reconhecer que a educação tornou-se crucial. Negar esse entendimento seria suicídio político. No entanto, a essa assertiva acrescenta-se uma dúvida emblemática: crucial para quê? Nenhum candidato, até o momento, assumiu qualquer compromisso mais sério com a efetiva melhoria da qualidade do ensino, que é o que importa, de fato.

Na década de 90, o Brasil corrigiu o déficit histórico no acesso à educação. Foi um avanço notável. Longe, entretanto, de ser considerado uma “revolução silenciosa”, como apregoou o presidente da Nação. Mas, por outro lado, o País falhou vergonhosamente ao não garantir qualidade de ensino para a multidão de alunos que teve a oportunidade de passar a freqüentar a sala de aula.

Na prática, isso aconteceu porque há um profundo divórcio entre o projeto de desenvolvimento econômico e social para o País (se é que ele existe!) e a política educacional. Existe um enorme descompasso entre o que oferecem as instituições de ensino e o que querem o mercado de trabalho e a sociedade. Não é à toa que a educação, hoje, desponta como um dos temas de maior interesse – e preocupação – do setor empresarial. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) quis saber dos empresários quais os principais temas que eles pretendem debater com os candidatos à Presidência da República. Reforma tributária e educação venceram de goleada.

Argumentos existem de sobra para justificar a inquietude dos empresários. A indústria automobilística e a indústria farmacêutica, por exemplo, importam cérebros de seus países de origem, pois não os encontram aqui em quantidade suficiente. Faltam professores qualificados nas escolas públicas de educação básica, sobretudo para as disciplinas de espanhol, física e química – dentre outras. A maior parte dos cientistas que pesquisam a floresta Amazônica vem de instituições estrangeiras. Advogados, há em excesso, contudo, a Justiça não consegue contratar juízes e promotores com o mínimo de competência para o exercício das funções. Universidades federais formam mestres e doutores em demasia. Entretanto, em total descolamento com as expectativas do mercado. E por aí vai.

Governo e oposição têm certa responsabilidade nisso e deveriam assumir a culpa, pois não conseguiram articular um projeto claro de melhoria da qualidade da escola pública. A inclusão no sistema é importante, mas vira puro mecanismo de controle social sem um projeto mais amplo para a educação. A escola pública está perdida, sem rumo, e a escola privada é incapaz de pensar um projeto que não seja o lucro imediato dos seus donos.

Existe um divisor brutal no Brasil, determinado pela desigualdade social, mas imensamente reforçado pela estrutura iníqua do sistema educacional. Os desafios do próximo presidente são monumentais (erradicar o analfabetismo; concluir a universalização do acesso ao ensino fundamental e, em especial, ao ensino médio e ao ensino profissionalizante; investir na formação e na valorização salarial do professor; reduzir as taxas de repetência e evasão escolar; melhorar as condições físicas das escolas; garantir vagas aos que chegam ao ensino superior, ou nas universidades públicas ou por meio de crédito educativo; investir em pesquisa em ciência e tecnologia e na pós-graduação voltada ao mercado de trabalho).

Mas nada disso fará sentido se não houver uma melhoria significativa da qualidade do ensino. Porém, antes de melhorar a qualidade da educação precisamos saber o que fazer com ela. Qual é a educação que queremos? Qual é o País dos nossos sonhos? Sem responder a essas questões não iremos a lugar algum.

Texto retirado de  http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/g_piolla/id230402.htm